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1. 'Beserk': Um dos ou o melhor de todos.

      Kentaro Miura foi o visionário por trás de uma das histórias de fantasia mais profundas e sombrias já criadas, centrada no espadachim solitário conhecido como Guts. Seu mangá é reverenciado pelos fãs e considerado uma verdadeira lenda no mundo dos mangás. Embora a obra tenha sido adaptada para anime duas vezes, em 1997 e novamente em 2017, nenhuma dessas animações conseguiu capturar completamente a complexidade e o amor dedicado ao mangá original. Isso se deve à abordagem única de Miura ao desenho, que é verdadeiramente singular e impossível de replicar em qualquer outro meio. É inegável: Kentaro Miura é e sempre será insubstituível. Publicado desde 1989, o mangá de Berserk continua a cativar os leitores até os dias de hoje, apesar dos frequentes e prolongados hiatos. Em sua essência, Berserk é uma obra de fantasia ousada e sombria. Porém, em um nível mais íntimo, é um estudo de caráter introspectivo sobre um homem solitário lutando contra seus demônios internos e seu passado tumultuado. É uma jornada contínua que questiona a natureza fundamental da humanidade: somos intrinsecamente bons ou maus? Situada em um mundo de fantasia sombrio com influências estéticas do estilo medieval europeu, Berserk é repleto de enormes castelos, máquinas arcaicas e armaduras enferrujadas, criando um cenário impressionante e imersivo para os leitores explorarem.

          O protagonista, conhecido apenas como Guts, é uma figura profundamente complexa em Berserk. Desde o início, sua personalidade, motivações e ações são profundamente moldadas por uma infância conturbada, na qual ele cresceu ao redor de um bando de mercenários brutais, indiferentes e violentos. Ao longo da história, testemunhamos uma série de demonstrações de bondade por parte de Guts, assim como decisões que ele nunca imaginaria tomar, revelando sua evolução contínua ao longo da obra. No entanto, também somos confrontados com escolhas impiedosas e ações sádicas, evidenciando os traumas não resolvidos que Guts ainda carrega e adicionando uma profundidade ainda maior ao personagem. A verdadeira beleza de Berserk não reside apenas nos personagens marcantes apresentados durante a obra, mas também na habilidade de Miura em descrever o mundo por meio de sua arte. Enquanto a maioria dos mundos de fantasia falha em replicar ou sequer se aproximar da maestria com que o mundo de Berserk é construído e desenvolvido, Miura nos leva a um universo onde cada detalhe é cuidadosamente trabalhado, criando uma experiência imersiva e inigualável para os leitores. A narrativa e os diálogos se entrelaçam harmoniosamente com os desenhos minuciosamente detalhados, demonstrando que a arte é essencial para a compreensão e apreciação da história. Berserk é bem conhecido por atrair fãs inicialmente pela impressionante arte em nanquim. Os detalhes meticulosamente elaborados, desde as expressões dos personagens até a paisagem acidentada do mundo, os conflitos econômicos do povo e até mesmo a comida que comem, contribuem para a imersão completa na obra. No entanto, os constantes hiatos entre os capítulos publicados podem ser um desafio para os leitores, resultado do extremo perfeccionismo do autor.

A vida de Kentaro Miura.

          Nascido em 1966, Kentaro Miura foi um homem cuja vida girava em torno de uma paixão inabalável: desenhar. Desde tenra idade, sua vocação artística era evidente. Aos meros dez anos, ele concebeu sua própria série de mangá, intitulada 'Miuranger' - uma criação inteligente que fundia seu próprio nome com a palavra inglesa "ranger", que significa "patrulheiro". As imagens e histórias hiperdetalhadas revelavam um talento muito além de sua idade na época, resultando em 40 volumes colossais que foram compartilhados com os colegas de classe como parte de um projeto escolar, embora lamentavelmente nunca tenham chegado oficialmente aos fãs. Apenas um ano depois, Miura empreendeu outro projeto mangá intitulado 'Ken e no Michi' (O Caminho da Espada), demonstrando um compromisso precoce com sua arte. Durante o ensino médio, sua paixão pela arte se intensificou, impulsionando-o a buscar o sucesso com promessa, ambição e talento puro. Aos 22 anos, em 1988, Kentaro Miura iniciou a jornada que o consagraria como um dos maiores mangakás de todos os tempos ao criar 'Berserk', o mangá que se tornaria uma lenda em todo o mundo.

2. 'Vagabond': A historia sobre aquele queria ser invencivel.

        Quando falamos em história do Japão, mesmo aqueles que conhecem muito pouco têm alguns nomes que vem a cabeça como: Oda Nobunaga, Hideyoshi Toyotomi, Ieyasu Tokugawa, e claro, Miyamoto Musashi. Agora imagine uma história em quadrinhos contando a vida de um desses nomes. É isso que Vagabond é. Vagabond, de Takehiko Inoue, conta a história de Miyamoto Musashi, baseado na biografia existente. Takehiko é extremamente conhecido por seu trabalho em Slam Dunk, com alguns prêmios para este titulo e com Vagabond também não é diferente, atualmente possui 3 prêmios. Shinmen Takezo é um rapaz de uma pequena vila chamada Miyamoto que vai a guerra em busca de um nome para si, junto dele está seu amigo Hon’iden Matahachi que tem o mesmo objetivo. Sobrevivem por pouco da guerra e são ajudados por duas mulheres que roubaram as armas dos mortos na guerra, quando bandidos atacam a casa das mulheres Takezo enfrenta os bandidos enquanto Matahachi foge com uma delas.

          E assim começa a aventura solitária de Takezo, que logo mais tarde será rebatizado como Miyamoto Musashi. Ao contrário do que muitos pensam mangá não tem sempre o traço do Astro Boy de olho grande, Vagabond é um excelente exemplo disso. O traço é bem diferente do que normalmente você vê por ai e a riqueza de detalhes é incrível, embora não seja um dos meus traços preferidos. Uma das coisas que o autor consegue fazer de forma excelente é pelo olhar do personagem passar o que ele está pensando e suas sensações, é possível ver pelo olhar de Musashi sua evolução durante todo o mangá. Quanto à história, como disse, ela é baseada na biografia do Musashi e isso já bastante coisa, e o autor consegue traduzir o livro para quadrinhos de forma fantástica. Para quem gosta de mangá sabe que a forma narrativa é diferente das comics, quadros, imagens é tudo usado para a narrativa e para ambientar melhor a noção do leitor, e Takehiko faz de uma maneira extasiante em determinadas partes e calma em outras, fazendo a história correr extremamente bem. Para quem não conhece Miyamoto Musashi é um dos samurais mais conhecidos da história do Japão (se não O mais), grande estrategista e lutador, ele criou doutrinas tanto de comportamento quanto de luta e as escreveu em seu livro “O Livro dos 5 Anéis”.

A vida de Takehiko Inoue

        Um dos maiores mangakás da terra do sol nascente, Inoue Takehiko, nasceu em 1967, no Japão. Aos 9 anos seus pais se separaram e junto com sua mãe e irmãos foram morar em Kagoshima, cidade em que seu avô morava. Foi ele, seu avô, quem incentivou Inoue a seguir a carreira de mangaká e foi este encorajamento que o estimulou e continua estimulando a trabalhar incessantemente para terminar um capítulo no prazo final dado pelo editor. Diferente de muitos mangakás, Inoue não possui muitos trabalhos editados. Como criador e desenhista esses são os títulos: Slam Dunk (1990 – 1996), primeira história sobre basquete produzida por Inoue, possui 31 volumes e publicado na Weekly Young Jump, pela Shueisha; Buzzer Beater (1997 – 1998), mangá em colaboração com a ESPN, lançado em quatro volumes na Webcomic, pela Shueisha, também sobre basquete; Vagabond (1998 –), com 37 volumes, em andamento, publicado na Weekly Morning, pela Kodansha Esse mangaká tem uma admiração por basquete, esporte que até hoje pratica. Inicialmente, quando estava estudando, Inoue, se interessou por uma garota e tentou impressioná-la através desse esporte e foi dessa sua vivência que surgiu o protagonista Hanamichi Sakuragi, do mangá Slam Dunk. Este artista acredita que para ser um bom profissional, deve haver desafio no trabalho, e foi o que ele fez quando se arriscou a desenhar uma história sobre um esporte pouco popular no Japão, o basquete. O mangá fez tanto sucesso que muitos jovens começaram a praticar esse esporte e até hoje continua popular entre os japoneses.

3. 'Evangelion': O mangá sobre humanidade.

        Neon Genesis Evangelion é, acima de tudo, uma obra humanista; teologicamente e psicologicamente confrontadora, colocando em xeque a existência e ambição humana, sempre procurando o micro dentro do macro para sua experiência reflexiva em contextos intrínsecos. Os dois episódios finais, equivocadamente criticados pelo estilo de “terapia experimental”, com muitos culpando a conclusão adversa em questões extra fílmicas da falta de verba, concluem perfeitamente o estudo de personagem de Anno. Nunca foi sobre explicações de mitologia ou desfechos bombásticos, mas sim a intimidade e empatia com dramas frequentes em um ambiente fantástico. Apesar de ter algumas ressalvas com o desfecho bonitinho de aprendizado e mensagem moral, continuo adorando como Hideako Anno sempre une seu conteúdo com a forma, especialmente na corajosa resolução de “psicanálise surrealista”, esteticamente absurdo e deslumbrante, fechando com excelência criativa um grande clássico. A história da obra é o seguinte. depois do Segundo Impacto, o cataclismo causado pelo contato humano com Adão, metade da população da Terra morreu. Na cidade futurística de Neo Tóquio-3, o restante da humanidade passa seus dias lutando contra os “Anjos”, criaturas descendentes de Adão que querem causar o Terceiro Impacto, extinguindo a raça humana. Uma organização paramilitar chamada Nerv combate o inimigo através de máquinas orgânicas chamadas EVA’s, pilotadas por raras crianças que conseguem sincronizar com o sistema misterioso. Essa é a premissa de Neon Genesis Evangelion.

        Complexidade chega a ser eufemismo… isso porque não falei sobre a Instrumentalização Humana, um programa que tem como objetivo criar a consciência coletiva do ser humano; ou então da onde saiu Adão e o restante dessas criaturas fantásticas; por que apenas um grupo seleto de crianças conseguem pilotar as EVA’s, que, por sua vez, não sabemos como são controladas ou foram parar nas mãos da Nerv, etc, etc, etc. Honestamente, nem sei o quão assertivo fui na explicação da base da trama, dada sua melindrosa mitologia. É importante notar como o anime se tornou um clássico por causa desses conceitos intrincados, simbologias religiosas e discurso existencialista, que trazem debates e pesquisas para entender significados da obra. Desde os nomes das criaturas (Adão, EVA, Lilith, entre outras extensões de nomes bíblicos angelicais e demoníacos), as explosões em forma de cruz, os símbolos/menções de judaísmo, xintoísmo e cristianismo espalhados pelo show, além de toda a discussão de gênero em torno da criação do mundo com Adão e Eva (submissão), e Adão e Lilith (igualdade) – segundo o texto medieval O Alfabeto de Ben-Sira, Lilith foi criada junto de Adão, sendo posteriormente descrita como demônio por não aceitar ser submissa, ideia também imbuída ao show no debate do machismo.

A vida de Hideako Anno

        Hideaki Anno, nascido em 22 de maio de 1960 em Ube, Yamaguchi) é uma especialista em animação japonesa e trabalha também como diretor de filmes. Anno é mais conhecido por seu popular trabalho em Neon Genesis Evangelion. Seu estilo passou a ser definido pelos toques de pós-modernismo que ele aplica em seus trabalhos, assim como a descrição minuciosa de pensamentos e emoções dos personagens, muitas vezes através de sequências não-convencionais que incorporam a psicanálise e a desconstrução emocional desses personagens. Casou-se com a artista em quadrinhos Moyoco Anno em 27 de abril de 2002.